Artigo de opinião de Paulo Paixão, Presidente da Sociedade Portuguesa de
Virologia e Médico Virologista da SYNLAB Portugal
Gripe ou COVID-19, é possível distinguir?
O tempo mais frio está a chegar, as empresas estão a desconfinar, as aulas
estão a começar e, de acordo com as estatísticas, o aumento de casos
de COVID-19 tem estado diretamente relacionado com a aproximação das
famílias. Adicionalmente, todos os dias observamos colegas de trabalho nos
seus momentos de lazer, a almoçar e / ou a tomar café, frente a frente nos
resultado e sem máscara.
Por isso, a preocupação é generalizada e racional: a população dificilmente
conseguirá distinguir uma gripe da COVID-19. Os sintomas são muito
similares e, para dificultar o processo, continuamos a muitos casos
positivos em pessoas com manifestações ligeiras, para além do grande número
de assintomáticos. Até a comunidade médica terá dificuldade em distinguir
estas duas infeções na perfeição, uma vez que não é possível fazê-lo
clinicamente e de forma direta. Os médicos estão sensibilizados para essa
situação e a indicação que têm é para “testar, testar, testar”. Testar sempre que
estiverem perante quaisquer sintomas respiratórios.
O diagnóstico continuará a ser efetuado através da realização de testes
laboratoriais ao SARS-CoV-2 e/ou adicionalmente ao vírus da gripe,
dependendo das circunstâncias. Atualmente, nos hospitais, a prioridade é
testar os doentes para o novo coronavírus. No entanto, na altura em que os
vírus cocircularem poderá fazer sentido a realização dos dois testes, para
despistar casos de coinfeção. Obviamente, cada caso é único e a situação terá
de ser avaliada pelo médico. Na altura em que o vírus da gripe estiver em
circulação, fará sentido fazer os dois testes rápidos e fiáveis a ambos os vírus,
situação para a qual os laboratórios clínicos estão muito bem equipados e
preparados.
Com a circulação destes dois vírus, é também importante fazer-se um reforço
da vacinação para a gripe. No entanto, é preciso alertar que a vacina pode
prevenir a gripe, mas que sobretudo protege contra as suas complicações. Há
muitos casos de gripe em pessoas vacinadas, pelo que todas as pessoas
devem ser também testadas.
A circulação, em simultâneo, do SARS-CoV-2 e do vírus da gripe em nada
deve alterar a nossa atuação perante a desconfiança de uma possível infeção.
Pelo contrário, devemos até reforçar. Em caso de sintomas de uma possível
infeção respiratória, a população deve contatar a linha SNS24 ou o seu médico.
E, acima de tudo, não baixar a guarda e seguir as recomendações de
prevenção: lavar as mãos com água e sabão durante, pelo menos 20
segundos; evitar tocar nos olhos, nariz e boca; manter o distanciamento social
em situações profissionais e de lazer; ficar em casa se estiver doente; e
desinfetar mãos, objetos e superfícies que sejam tocadas regularmente.
Miligrama Comunicação