No universo das ostomias intestinais e, pelas suas particularidades específicas, merecem
algum destaque, o que se traduz numa maior vigilância e cuidado especial, refiro-me às
ileostomias.
A ileostomia é uma ostomia de eliminação intestinal situada numa porção do intestino delgado,
mais precisamente no íleon, localizando-se o estoma, normalmente, no quadrante inferior
direito do abdómen.
Este tipo de ostomia intestinal exige de nós, profissionais e pessoa ostomizada, um maior
cuidado pela sua localização e caraterísticas do conteúdo eliminado.
Como é do conhecimento geral, não é intestino que são absorvidos a água e os nutrientes
ingeridos. Quando, por qualquer motivo, a pessoa é intervencionada cirurgicamente, da qual
resulta uma ileostomia, todos os alimentos e líquidos ingeridos são expelidos precocemente
pela abertura presente no íleon (ileostomia) comprometendo a principal função de absorção do
intestino. Esta disfunção pode causar desequilíbrios hidro-electrolíticos, podendo provocar
graves carências no organismo.
Além disso, o conteúdo presente neste segmento do intestino contém uma grande
concentração de enzimas biliares, proporcionando ao efluente um pH alcalino que, associado à
consistência, tipicamente líquida ou semilíquida, e ao excessivo volume eliminado diariamente
(por vezes superior a 2000 ml), poderá causar grandes transtornos à vida da pessoa portadora
deste tipo de ostomia intestinal, comprometendo consideravelmente a sua qualidade de vida.
Considerando todas estas particularidades, é muito importante que as pessoas portadoras de
ileostomia pratiquem uma alimentação cuidada e equilibrada, quer ao nível da ingestão de
líquidos quer dos alimentos. Contrariamente ao que as pessoas possam pensar, o facto de
estarem a eliminar muito conteúdo pela ileostomia, não significa que devam suspender a
ingestão de alimentos e líquidos, isso contribuirá para maiores desiquilibrios, agravando o
quadro de desidratação e desnutrição.
É indiscutível que, na presença de uma ileostomia são importantes alguns cuidados
alimentares para aumentar o tempo de absorção e não haver tantas perdas, ou seja, para
reduzir as quantidades eliminadas pela ileostomia.
Felizmente, grande parte das ileostomias são construídas com caráter temporário, para
resolver a fase aguda de determinadas doenças (ex.: doenças inflamatórias intestinais), para
proteção de anastomoses intestinais baixas, para derivação do fluxo fecal enquanto decorre a
cicatrização, ou consequentemente a situações de urgência, sendo o trânsito intestinal
restabelecido num curto período de tempo, que poderá ir de 1-2 semanas a 3-6 meses.
Contudo, há ileostomias que permanecem mais tempo, por vários motivos (ex: longos períodos
de tratamentos com quimioterapia), atrasando a cirurgia de reconstrução.
Independentemente do tempo de permanência da ileostomia, os seus portadores deverão
aprender a viver com ela com naturalidade e com todos os cuidados que a mesma exige.
Para tal, é fundamental, que as pessoas com ileostomia sejam devidamente acompanhadas
por profissionais especializados que previnam todas as complicações que possam surgir e
condicionar o seu bem-estar e a sua saúde, mas também, no tratamento precoce, pontual e
eficaz quando na presença de alguma situação menos agradável.