No dia 1 de maio de 2021 faleceu em Azeitão, com 57 anos de idade, Ana Isabel de Melo Azevedo Neto, natural de Lajes do Pico. Era casada e deixa dois filhos maiores. Começou a sua vida escolar na Silveira e nas Lajes do Pico tendo, com 14 anos de idade...
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No dia 1 de maio de 2021 faleceu em Azeitão, com 57 anos de idade, Ana Isabel de Melo Azevedo Neto, natural de Lajes do Pico. Era casada e deixa dois filhos maiores.
Começou a sua vida escolar na Silveira e nas Lajes do Pico tendo, com 14 anos de idade, passado a frequentar o Liceu da Horta. Terminou o 12° ano em Ponta Delgada.
Licenciou-se em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa em 1987, com uma tese sobre ictioplâncton da costa continental portuguesa, desenvolvida no Instituto Nacional de Investigação das Pescas. Ainda como estudante as suas qualidades científicas foram reconhecidas com um convite à participação no cruzeiro aos Açores do navio de investigação Noruega.
Tendo trabalhado durante o curso para ajudar a suportar as despesas, ainda como estudante começou a lecionar Biologia no ensino secundário, com horário completo.
No entanto, o seu sonho de fazer investigação na área de Biologia Marinha levou-a a concorrer à vaga aberta para Botânica Marinha no Departamento de Biologia da Universidade dos Açores, tendo ali sido colocada em Novembro de 1987. Fez toda a carreira subsequente na Universidade dos Açores: provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica em 1990, doutoramento em Biologia Marinha em 1997 e agregação (o mais alto grau académico) em Botânica Marinha em 2007.
Era Professora Associada com Agregação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade dos Açores.
Como docente, foi regente das unidades curriculares de Biologia das Algas e dos Fungos, de Biodiversidade Marinha, de Recursos Marinhos e de Aquacultura. Colaborava também em várias outras unidades curriculares dos níveis de licenciatura, mestrado e doutoramento.
A Professora Ana Neto, como era conhecida, foi uma pedagoga extraordinária, aliando o rigor académico a uma invulgar empatia e a uma alegria de ensinar que motivavam os estudantes a dar o seu melhor. Após a primeira semana de aulas conhecia já os nomes de todos os estudantes; no final do semestre tinha estabelecido com todos uma relação quase familiar. Era vulgar vê-la integrada em grupos de estudantes, rindo e conversando descontraidamente. Tinha um orgulho especial em que a Tuna Masculina da UAc, os Tunídeos, tivesse chegado a considerá-la sua madrinha, tendo estendido as capas à sua passagem após as provas de doutoramento. O carinho que lhe dedicavam os seus estudantes pode ser sentido neste excerto do poema que lhe foi dedicado por um ex-aluno, Paulo Luís:
“A Ana era a maior Embaixadora do seu Pico e dos seus Açores…e deixou-nos…
A Ana era um Furacão Humano…e deixou-nos…
A Ana era uma Amante das suas Algas…e deixou-nos…
A Ana era Corajosa e Carinhosa…e deixou-nos…
A Ana deixou-nos…
Deixou-nos…mais felizes…
Deixou-nos…mais conhecedores…
Deixou-nos…mais gratos…
Deixou-nos…mais privilegiados…
Deixou-nos…mais dedicados…
Deixou-nos…mais crentes…
Deixou-nos…mais apaixonados…
Deixou-nos…mais envolvidos…
Deixou-nos…mais deslumbrados…
Deixou-nos…mais humildes…
Deixou-nos…mais Açorianos…
Deixou-nos…mais Humanos…”
Exercia a sua atividade de investigação no Grupo de Biodiversidade dos Açores, onde coordenava o sub-grupo de Ecologia Aquática Insular. Foi a principal especialista em taxonomia de macroalgas marinhas em Portugal, com uma reputação internacional bem estabelecida em múltiplos projetos de colaboração que começaram logo no início da sua carreira, quando reviu a colecção de macroalgas dos Açores no Natural History Museum, em Londres. Em colaboração com colegas e estudantes (orientou 15 teses de doutoramento e 20 teses de mestrado), publicou mais de 160 artigos científicos, três capítulos de livros e oito livros de divulgação. Já lutando contra a doença conseguiu deixar publicada a base de dados da distribuição das espécies de macroalgas marinhas nos Açores, a qual constituirá um importante recurso para investigadores futuros.
Em publicação num número especial da Arquipélago- Life and Marine Sciences deixa ainda a atualização da lista taxonómica dessas mesmas espécies. Quando começou a sua carreira científica, estavam registadas apenas 204 espécies de macroalgas marinhas nos Açores, sendo esta relativa pobreza considerada o resultado do isolamento do arquipélago. Graças em grande parte aos seus esforços, sabe-se hoje que existem na Região pelo menos 493 espécies (uma das quais ela ajudou a descrever como nova para a ciência), e os Açores passaram a ser vistos como uma região situada na encruzilhada de várias regiões biogeográficas, e uma peça essencial na compreensão dos mecanismos de dispersão e colonização das macroalgas.
Outras das suas áreas de investigação incluem a Ecologia Marinha e a Aquacultura. Na primeira fez importantes contribuições para a definição dos biótopos litorais dos Açores, para a compreensão do papel das lapas nas biocenoses costeiras, para a mitigação do impacto da urbanização costeira e para o conhecimento da qualidade das massas de água oceânica do arquipélago. Em Aquacultura demonstrou ser possível completar na Região o ciclo de vida das amêijoas da Lagoa do Santo Cristo, tendo libertado nessa lagoa um lote de amêijoas criadas no seu laboratório. Ainda nesta área coordenou os projetos científicos que consolidaram o conhecimento científico na base da ALGICEL, uma empresa especializada no cultivo de microalgas, e AQUAZOR, que se dedica à aquacultura de macroalgas e de peixes.
O fulgor de Ana Isabel Neto como cientista e como pedagoga não a fez esquecer as suas raízes. Filha dos professores Inês e José Azevedo, passou a sua infância entre a vila das Lajes do Pico e o lugar da Silveira, onde é recordada com saudade por várias gerações, das pessoas idosas que se lembram de uma menina feliz e traquina, falando com toda a gente, aos inúmeros amigos de estudo, de folguedos ou de simples vizinhança, e chegando aos mais novos, que não se coibia de parar na rua para perguntar: “Tu de quem és?”
Exímia e graciosa bailadora de chamarrita (à moda antiga), tinha um sorriso quando rodopiava que iluminava os longos serões das folgas por todo o Pico, ou os desfiles etnográficos da Semana dos Baleeiros.
Por tudo isto, o PAN propõe a aprovação do seguinte voto de pesar:
A Assembleia Legislativa Regional manifesta o seu pesar pelo falecimento de Ana Isabel de Melo Azevedo Neto, orgulhosa açoriana, mulher do Pico e das suas gentes, mãe presente e exemplar, pedagoga que enriqueceu gerações de estudantes, e investigadora incontornável no panorama da Biologia Marinha regional.
Do presente voto deverá ser dado conhecimento à família e à Universidade dos Açores.
Horta, 18 de Maio de 2021
O deputado
Pedro Neves